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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Uma velha história da nossa beira - Por Humberto Pinho da Silva

UMA VELHA HISTÓRIA DA NOSSA BEIRA


Por Humberto Pinho da Silva


Rezar uns pelos outros, é recomendação bíblica, e o Apostolo recomendou, mormente pelos doentes; mas a oração só será eficaz, se o enfermo colaborar.
Gonçalo Fernandes Trancoso, conhecido escritor do século XVI, reconta em: “ Histórias de Proveito e Exemplo” o antiquíssimo conto popular beirense.
Reza a tradição, que em determinado local, da nossa linda Província da Beira, havia piedoso eremita, que erguera, na crista de empinada serra, humilde casebre.
Perigoso salteador de estrada – talvez após séria reflexão, – avizinhou-se do eremita, para lhe pedir um favor, já que, segundo lhe disseram, falava com Deus:
- “ Tu que falas com o Altíssimo, pede-Lhe, que me liberte desta ruim vida, em que ando, que não me dá sossego.
“ Se não me conceder essa graça, talvez venha a praticar o feio desatino de te matar! …”
Ficou o servo de Deus, aflito, temendo o temível sicário, que espalhava o terror em toda a região; e nas suas orações, rogava, fervorosamente, para que Deus o atendesse.
Mas, o ladrão e assassino, continuava sempre, na vida solta, que sempre levara. Como não sentisse coragem – embora a consciência o acusar, – para se emendar, pensou que o servo de Deus não fizera caso do seu pedido, apesar de constantes ameaças: gestos e palavras ofensivas.
Convencido que o eremita não apresentara a petição, a Deus, assentou concretizar as ameaças, já que as não levava a sério.
Uma manhã, ao romper do sol, aproximou-se, cautelosamente, com facalhão na mão, da humilde choupana.
O eremita, que estava de atalaia, apareceu-lhe de ar sereno:
-” Se vens matar-me, primeiro teremos que levantar a laje, que será colocada sobre a minha sepultura…”
Concordou o assassino; e foram suspender a pesada laje de granito, que conservava em casa.
Reparou o facínora que o servo de Deus puxava a pedra para baixo, enquanto ele a tentava levantar, e disse-lhe de mau modo:
- “ Como posso levanta-la, se puxais para baixo!? …”
Ao que o eremita repostou, em voz macia:
- “ Compreendes agora, como nada é possível, quando cada um puxa para lado contrario?! …Nada adianta pedir a Deus, para que te tornes um homem honrado, se não te arrependeres, e desejares, do fundo do coração, afastar-te da má vida que levas?! …”
Se não houver vontade de emenda, de nada serve sermos religiosos.

O que nos salva, é o desejo, o esforço – mesmo infrutífero, – de sermos cada vez mais perfeitos.

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