A BANDEIRA DA SELECÇÃO
Por
Humberto Pinho da Silva
Havia, na casa de meus avós
paternos, varanda, gradeada a ferro, de cor verde. Nela, existia pequeno
mastro, esmaltado a azul e branco.
Em dias festivos, comemorativos
da nossa História, meu avô, retirava do largo gavetão, da velhíssima cómoda de
pau-preto, a bandeira, de seda pura: azul e branca.
Solenemente, e máximo respeito,
hasteava-a, pela manhã, deixando-a a flamejar e a rutilar, ao vento e ao sol.
Quando a tarde se recolhia,
retirava-a, cuidadosamente, e guardava-a, bem dobradinha, de novo, no fundo da
gaveta da cómoda do quarto.
Para ele, a bandeira e o Hino
Nacional eram símbolos sagrados da nação, dignos de todo o respeito.
A casa de meus avós era
modesta; como modesta era a origem da família. Ele, neto de mestre –
carpinteiro, de Arouca; ela, a mulher, neta de lavradeira do Marco; mas ambos
amavam a Pátria, que os vira nascer.
Cinquenta anos depois, que meu
avô hasteava a bandeira da monarquia, nasci, já em plena república.
Frequentei a escola, da minha
cidade. O Sr. Baptista – professor do Ensino Primário, – ensinou-me a cantar a
“ Portuguesa”.
De pé, em sentido, todos – os
alunos da classe, – num coro, quantas vezes desafinado, gritávamos, a plenos
pulmões: Às armas! Às armas!/Sobre a terra, sobre o mar,/Às armas, às
armas!/ Pela Pátria lutar! / Contra os canhões, marchar! marchar!”
Aos domingos e dias feriados,
era hasteada, a bandeira verde-rubra, na escola, e retirada, solenemente, ao
entardecer.
Porque, a bandeira da Pátria,
não devia, nem podia, ficar hasteada durante a noite, a não ser que fosse
devidamente iluminada.
Ao matricular-me no liceu, o
Sr. Regadas – professor de Canto Coral, – ensinou-me a cantar o Hino, comme il faut; muitas vezes obrigava-me a
repetir, quando, por brincadeira ou descuido, desafinava.
A mesma “veneração” e respeito
inculcaram, os meus superiores ao servir a Pátria, no exército; em período
bastante difícil e cruel.
O tempo passou…; com ele, parte
da minha geração; e a bandeira, que durante anos, fora quase esquecida…
ressuscitou: pendurada em cabos de vassoura, presa a janelas, e à mistura, com
lençóis e cuecas no varal.
Se outrora era ofensa, alterar
ou deturpar símbolos, ou inscrever dizeres, agora, vem da China, com palavras e
frases…
Só a vejo – e talvez por isso
se tornou a bandeira da Seleção – em campeonatos de Futebol, a servir de: capa,
chapéu, lenço de cabeça, toalha de praia e até fragmentada de, bikini;
mas não a vejo – a não ser em edifícios públicos, – no Dia de Portugal; no 1º
de Dezembro, ou 5 de Outubro! …
Razão?; não sei. Sei, que de
tanto a ver” colada” à Seleção de Futebol, as gerações mais novas, chamam-na
de: “ bandeira da Seleção”, e respeitam-na tanto, como a do F. C. do Porto ou
do glorioso Benfica.