Arione Diniz
Josivam Alves
Embora seja um dos maiores empresários do país, cuja agenda é
bastante concorrida (constando de compromissos nacionais e até internacionais),
continua sempre muito identificado com suas raízes. Traz no DNA das origens o
amor profundo pelo torrão natal. O berço aconchegante que lhe massageia o ego,
e que se lhe apresenta como a menina dos olhos, nada mais é do que o sítio
Mendonça, encravado na zona rural de Catolé do Rocha, sertão paraibano.
Mesmo preocupado, na qualidade de proprietário de um complexo
empresarial, denominado Óticas Diniz, com faturamento superior a 300 milhões de
reais/ano, liderança de mercado em 24 dos 26 estados brasileiros, com mais de
500 lojas, o maior do ramo em todo o Brasil (a loja de Catolé do Rocha é a de
nº 500), faz de tudo para administrar bem o tempo. E quando tem espaço, a
grande prioridade é partir para o Mendonça a bordo de seu helicóptero.
No entanto, para que haja condição de chegar mais rápido,
preparam-se os ultimatos para a construção de um aeroporto mais moderno em
Catolé do Rocha (no aeroporto atual somente aterrissam aeronaves a hélice). A
intenção é provê-lo de infraestrutura necessária para que nos próximos dias
possa aterrissar em seu jatinho particular. Ultimamente o jato tem ficado em
Mossoró, de onde se desloca de helicóptero até o Mendonça.
É o reencontro com o cenário e com as personagens que
povoaram as páginas do seu passado, que faz Arione estampar no rosto o sorriso
da felicidade. Esse contato lhe dá bem-estar e resgata a época em que convivia
com os pais e demais familiares. Era menino de calças curtas que, ao lado dos
irmãos, peregrinava a pé pelas veredas, caminhos e estradas do Mendonça. Era a
caça a passarinhos, às vezes em busca de água na cacimba, outras, a acompanhar
o pai na direção do roçado ou de algum açude da região para pescar. “No caminho
da volta ninguém se perde”. “O bom filho
a casa torna”.
Em virtude do carinho que sempre teve à sua terra, faz
questão de estendê-lo à circunvizinhança. Há que se reconhecer o fato de
valorizar, prestigiar e participar dos eventos que acontecem, não só no
Mendonça, mas em Catolé do Rocha e nas cidades adjacentes. Prova disso é sua
presença nos grandes carnavais de Catolé, nas festividades juninas de Riacho
dos Cavalos, nas festas de emancipação política de Brejo dos Santos e de Bom
Sucesso, nos desfiles de trios elétricos em São Bento.
O grupo Óticas Diniz tem
convicção da importância dos grandes eventos. Entende-os como estratégia para
dar expansão a sua marca. Além disso, usa nomes de peso no trabalho de
marketing, tendo como um dos trunfos de suas campanhas, a modelo e
apresentadora Ana Hickmann. Só para
realçar, já foi patrocinador de um mega-evento esportivo, como o campeonato paulista
de futebol. Sua logomarca estampada no centro do gramado, em todos os estádios
de futebol do estado de São Paulo, onde ocorreram os jogos, e para onde se
dirigiam todos os holofotes e câmeras de televisão.
Por isso, certa vez,
não faz muito tempo, em nome do interesse da municipalidade catoleense e da
Óticas Diniz, tomamos a decisão de ter um encontro com o empresário Arione
Diniz. As intenções seriam claras:
estabelecer uma parceria entre os dois segmentos. Prefeitura Municipal e Óticas
Diniz marchariam de mãos dadas, ao lado de outros patrocinadores, para a
realização do maior carnaval do sertão, na Praça do Povo.
Como havia sido programado em reunião na própria Secretaria
de Cultura, fomos ao sítio Mendonça. Chegamos ao local do encontro às 5 da
tarde. Procuramos informações que nos foram repassadas por um rapaz alto,
magro, cabelos castanhos, olhos quase verdes, trajando bermuda jeans, camiseta
escura, tênis e boné branco.
Disse-nos que Arione
se encontrava de barco na parte mais distante da represa do açude. Estaria
percorrendo suas margens e ancorando em algumas ilhas que haviam surgido com a
descida do nível das águas. Seria uma espécie de pequena expedição de
reconhecimento dos acidentes geográficos e da área banhada pela bacia daquele
manancial. Trata-se do maior reservatório particular do estado.
O sol já começava a esconder-se por detrás das montanhas. Era
o prenúncio do final do dia. A penumbra
do entardecer anunciava que em alguns minutos o manto negro da noite cobriria as
terras do Mendonça. Estariam guardadas e protegidas pelas mãos de Deus no
sussurro discreto de misterioso silêncio.
A coruja sertaneja em pequenos voos já pousava em pontos
diferentes do tabuleiro. O pássaro pescador, com eficiente aerodinâmica, batia asa
parado no espaço, acima da parte mais profunda do açude, talvez na tentativa de
pegar o último peixe do dia. Esforço em vão. Não mais havia claridade para que,
batendo asas, gerasse na água sombra em movimento e pudesse enganar o peixe.
Desiludido, o velho pescador desiste da empreitada, voa e vai pousar sobre o
ponto mais alto do teto da casa flutuante.
Dois tetéus passeavam livremente, de papo e peito estufados,
sobre a parede do açude. Emitiam sinais de alerta, como se a área estivesse sob
perigo. Pareciam sentinelas que vigiavam sem trégua um grande tesouro. Não há
dúvida de que água em abundância em pleno sertão representa um oásis no
deserto.
A tilápia dá cambalhotas na superfície da água, ainda
aquecida pelo calor do dia. O mergulhão penetra água abaixo, mas de repente
volta e fica à cata de pequenos insetos para degustá-los na refeição da tarde.
Na margem do lado norte, galinhas d’água e marrecos grasnam e batem asas sem
parar. É como se estivessem numa grande festa, cujo cenário é a própria natureza.
A jaçanã, o socó e a garça frequentam os locais de menor profundidade. Engolem
minhocas, piabas, cascudos, caçotes...
Agora restavam os últimos clarões do dia. O espelho d’água do
açude ainda refletia o perfil de quem ficasse à sua margem. De onde estávamos (ponto
de início da passarela da casa flutuante), vimos dois homens de barco nas águas
de cima, lá para as bandas fronteiriças do major Marinete. Tinham suas imagens
projetadas no fundo do panorama. Era o campo aberto e ainda um pouco claro, construído
no infinito, a oeste, pelos últimos raios de sol. Criava-se bela moldura. O
retrato daqueles navegantes sentados no barco era pintado com a tinta do tempo
pelas mãos gloriosas do grande arquiteto do universo.
Enfim, os dois homens em terra firme, ancorados à margem do
lado sul. Eram Arione e o irmão Aécio. Apearam-se. Vieram ter conosco.
Cumprimentaram-nos amistosamente, de forma bastante receptiva. Deram-nos votos
de boas-vindas e recomendações de que ficássemos à vontade.
Arione, com enorme chapéu de palha na cabeça (tipo sombreiro
mexicano), camisa de mangas curtas, calção amarelo, sandálias havaianas, braços
bronzeados pelo sol causticante do sertão, olhava na direção do horizonte e
erguia a cabeça aos céus. Lamentava a falta de chuva e o fato de que o açude
desde que foi concluído ainda não havia sangrado.
Lembrou dos tempos idos quando trabalhava na roça com seu
pai, que já dizia da grande dificuldade de chover em nossa região. A seca
sempre foi grande preocupação. Por isso,
fica difícil os reservatórios tomarem água plenamente. O açude, construído por
Arione, tem capacidade para 18 milhões de metros cúbicos. Hoje, há muito espaço
vazio, principalmente depois do estio prolongado dos dois últimos anos.
Após dois dedos de conversa e alguns informes acerca da
situação do tempo, o empresário nos convidou à casa grande. Em lá chegando,
muitas mesas e cadeiras espalhadas no espaço do enorme alpendre. Ao lado, uma
grande mesa redonda, em torno da qual quatro homens atracados em um disputadíssimo
jogo de cartas. Sueca? Não me recordo! Talvez o jogo das nove, um pacará, um
pé-duro...
Ao sentar-se, estirar pernas e pés, em consequência do
cansaço pelo dia enfadonho, Arione pediu, por obséquio, a d. Isaura de Nicó,
ocupada nos afazeres da cozinha, que nos trouxesse água, café e algum
aperitivo. Sobre o balcão que dá acesso à grande cozinha da casa, pegou da
carteira de cigarros e do isqueiro e acendeu um free, e com o tablet em mãos,
conectado à internet, começou a acessar informações geradas em diversas partes
do país.
Ao tempo em que a conversa ia se prolongando, as mulheres na
cozinha davam os últimos retoques no jantar. Via-se do grande alpendre toda a
movimentação ao redor da mesa gigante. O jogo de baralho na mesa redonda não
dava trégua. Uns ganhavam, outros perdiam. Quando alguém puxava a carta da vez,
quem sabe, um coringa, os demais lamentavam.
A equipe mestre-cuca, habituada à culinária, não se demorou
muito. D. Isaura sai à porta, põe as duas mãos sobre o balcão da saída e convida-nos
para a mesa. Mesa farta, comida pra todo mundo e pra mais gente se lá chegasse.
Após o jantar ficamos à mesa a conversar. Arione lembrava o
grande destaque que a imprensa brasileira lhe havia dado. Trouxe-nos um
exemplar da Revista Exame, de circulação nacional, edição de 21 de setembro de
2011 (inclusive me ofertou como cortesia, e que guardo em minha estante com
muita honra).
A referida revista
apresenta reportagem especial (da página 152 a 154), que destaca a criatividade
do empresário catoleense, no ramo de ótica. Merece destaque o seguinte trecho:
“O curioso jeito de fazer negócios e de atrair clientes do paraibano Arione
Diniz, que transformou uma loja no Maranhão na maior rede de óticas do país”.
Catolé do
Rocha, 1º de novembro de 2013.