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sábado, 30 de abril de 2016

Como Eça conheceu a Santinha da Arrifana - Por Humberto Pinho da Silva

COMO EÇA CONHECEU A SANTINHA DE ARRIFANA

Por Humberto Pinho da Silva


Ao correr a vista pelas prateleiras, das estantes, da minha pequenina biblioteca, deparei com livrinho de capa acastanhada, encardida pelo tempo e pelo uso, de lombada de percalina vermelha, que pertencera a minha bisavó Júlia.
Trata-se do: “ Catechismo de Doutrina Christã”; com várias orações, organizado pelo Padre Francisco Topp; editado em Friburgo (Alemanha), em 1908.
Ao abri-lo, saltou-me pagela de papel couché, impresso a duas cores, contendo ligeira biografia de Ana de Jesus Maria José de Magalhães, popularmente conhecida por “ Santinha de Arrifana”.
Não sei se o leitor, alguma vez, ouviu falar desta “Santinha”, que tanto impressionou, pela década de setenta, do século XIX, o escritor Eça de Queiroz.
No romance: “ O Crime do Padre Amaro”, Eça, refere-se a ela, dizendo: que as senhoras teciam louvores à “ Santa de Arregaça”; que era, nem mais nem menos a “ Santinha”, que nascera em Arrifana, no ano de 1811. Filha de: José Dias Leite de Resende e de Clara Joaquina.
Estando Eça a veranear no Covo (Oliveira de Azeméis), assentou, com amigos, visitar a “ Santinha de Arrifana”, de quem se dizia viver em grande santidade.
Acompanhou-o, nesse passeio, o Senhor Conde de Resende, amigo íntimo, e futuro cunhado; a Senhora Condessa de Cascais, Dona Maria Isabel de Castro Lemos; o Senhor Marquez de Monfalim; e vários amigos e conhecidos do Senhor Conde de Covo.
Fizeram o percurso a pé. Pelo caminho, Eça, ia inquerindo informações sobre a “ Santinha”, e seu poder taumaturgo.
Chegados a casa de Ana de Jesus, encontraram sacerdote que viera, no intento, de lhe dar a comunhão.
Para assombro de Eça, logo que a hóstia penetrou na boca, a doente elevou-se ligeiramente, perante o espanto de todos os presentes. Duvidoso do que presenciara, o romancista, aproximou-se, mansamente, do leito da enferma; ajustou melhor o monóculo; e passou, cautelosamente, a mão, entre o corpo hirto e o lençol branco da cama.
Havia realmente espaço suficiente, por onde se podia passar, livremente, o braço, sem esforço.
De regresso ao Solar do Covo, Eça não escondia o espanto pelo que vira.
Jamais esqueceu a impressionante levitação, nem as palavras resignadas, proferidas pela Ana de Jesus, mergulhada em atroz sofrimento: “ Faça-se a vontade do Senhor!”
Frase que Dona Eugénia de Melo Breyner da Camara, esposa de D. João da Camara – o “santo” da Junqueira, – sempre proferia, quando as agruras da vida atingia um dos seus.

A “ Santinha de Arrifana”, que fora na juventude pastora, viria a falecer, em imenso sofrimento, três anos depois da visita de Eça, em 1875.

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