AINDA DOUTORES & COMPANHIA
Por
Humberto Pinho da Silva
Ao comentar a minha crónica: “
Doutor, Engenheiros & Companhia”, no Recanto do Escritor, alguém
disse: Quando frequentei a Faculdade de
Direito, tive professor, que tratava os alunos do último ano, por doutor, para
se habituarem…
E de Campo Grande, por correio eletrónico,
o Sr. António Menezes, pergunta-me: “ Se o grau académico não será o meio,
de plebeus, terem a ilusão de terem entrado na aristocracia?”
Vou-lhe responder, citando
Garrett: “ A aristocracia era uma instituição admirável, se houvesse
todos os anos um júri seleto e imparcial para regular quem havia de
entrar para ela e sair dela.” - “ O Arco de Santana”.
Devia haver, também, um júri,
para avaliar, se o licenciado, obtido o diploma, continuava a atualizar-se… pelo
menos, nas profissões, que cuidam da nossa saúde.
Mário Gonçalves Viana, narra,
na “Arte de Estudar”, que certo aluno do Colégio da Trindade, de Oxford,
concluído o curso, foi despedir-se do diretor, declarando-lhe que acabara os
estudos.
O mestre, admirado, respondeu-lhe:
“ Pois meu rapaz, fica sabendo, que eu só agora é que verdadeiramente comecei a
saber alguma coisa!”
Marden explica a razão ou a
necessidade, de obter diploma: “ É que se dá mais importância (…) a uma
sabedoria fictícia, do que à verdadeira sabedoria, sem garantia de diploma.”
Sempre foi assim. Erasmo – cito
“ Erasme” de Léon – E. Halkin” – Classiques du XXº siecle. Ed. Universitaires –
escreveu: que teve necessidade de ir a Itália “ para dar à
minha cienciazinha a autoridade desta ilustre estadia; depois obter o grau de
doutor.”
O mesmo aconteceu a Cesário
Verde, que matriculou-se no Curso Superior de Letras, em 1873, como se as
Letras lá estivessem, no curso! …
Passa-se o mesmo na pintura e
na escultura: Só se dá valor ao artista, depois de ter ido a Paris… à Cidade da
Luz.
E quem quer subir na
consideração do vulgo, tem que estagiar e obter o mestrado ou doutoramento,
numa universidade, fora do seu país.
Também o escritor, só obtém o “
Olimpo”, depois de ser traduzido e premiado no estrangeiro. (Sabe Deus, por que
meios, conseguiu o prémio! …)
E por que é assim, em todos os
países?!
Porque o ser humano só aprecia
o que está longe! …
Não sei se já repararam, que
alguns consultórios médicos, encontram-se recheados de certificados de:
estágios, congressos, seminários, passados, muitas vezes, por entidades
desconhecidas ou quase?!
É para
impressionarem o doente…
Havia, na minha cidade,
dentista, que mandou encaixilhar diploma de curso de cinco horas, numa clínica
de São Paulo! …
Cinco horas
bastaram para deslumbrar os pacientes! …
Muito mais poderia escrever
sobre o tema, mas parece-me que basta, por agora.
Para remate, é bom lembrar, que
há anos, veio do Canadá, famoso professor universitário, para ocupar o cargo de
ministro.
Ao chegar a Lisboa, foi
aguardado por batalhão de jornalistas, que perguntaram: “ Devemos tratá-lo por
Professor ou Sr. Ministro”?
- “ Apenas por Álvaro…”
E de catedrático
competentíssimo, passou a ser olhado de excêntrico…Porque não queria ser tratado
por Professor nem Senhor Ministro! …
Nenhum comentário:
Postar um comentário