O QUE SALAZAR PENSAVA SOBRE O
TRABALHO DA MULHER
Por
Humberto Pinho da Silva
Escreveu, na “ Carta de Guia”,
o nosso clássico, D. Francisco Manuel de Melo: que escutou, certa vez, da boca
de uma velhinha, rifão português, que poderia ter saído da boca de homem sábio:
“O marido barca, a mulher arca”.
Há também provérbio, muito
antigo, que diz: “ O homem a praça; da mulher, a casa”
Queriam dizer: o homem deve
trabalhar, para “abarcar”; a mulher, compete “ arcar”, dirigindo o meneio da
casa.
Era também, assim, o pensamento
de quase todos os homens, do início do século XX, e mesmo até à última Grande
Guerra.
Minha avó paterna foi exímia
pianista. Em solteira, apresentava-se em palco. Casada, ensinava e participava
em festas de sociedade. O marido não queria passar pela vergonha, de dizerem,
que recorrera ao auxílio monetário da mulher.
E o mesmo aconteceu com meu
pai. A esposa, pelos conhecimentos académicos que possuía, teria facilidade de
emprego; mas meu pai – nunca a deixou que o auxiliasse.
Não admira, portanto, que
Salazar, homem que nasceu no século XIX, tivesse igual pensar. Na entrevista
que deu a Christine Garnier, em 1950, graças à interferência de D. Maria
Armanda Lacerda, Salazar, respondeu, desta forma, à pergunta: Se ainda pensava
o mesmo – como havia escrito, em discursos passados, – sobre o trabalho
feminino?
Declarou o estadista: “ Continuo
a dizer que não há boas donas de casa, quando mais não seja na preparação das
refeições e arranjo das roupas. A ausência da mulher desequilibra a economia
doméstica e a perda de dinheiro que daí resulta raramente é compensado pelos
ganhos.”
E mais adiante, acrescenta: “
(…) As grandes nações deveriam dar o exemplo, mantendo as mulheres no
lar. Mas as grandes nações parecem ignorar que a constituição sólida da família
não pode existir se a esposa viver fora da sua casa (…) Reconheço que os meus
esforços para reduzir às antigas formas de viver, são quase todas vãos!”
Salazar receava que: se a
mulher entrasse, em força, no mercado de trabalho, poderia haver abundância de
oferta, e os salários baixariam.
Era o modo de pensar da época.
Só a mulher que tivesse profissão liberal, ou professora, deveria trabalhar.
Contudo, nas classes mais humildes, o trabalho feminino era aceite (embora com
restrições): na fábrica, na oficina e no armazém.
Apesar de Salazar ter esse
parecer, concedeu à mulher portuguesa, o direito de votar, treze anos antes da
mulher francesa, e quarenta da Suiça.
Hoje, esse pensar, é
anacrónico, e seria inconcebível que a mulher não trabalhasse fora de casa.
Reconheço que o desejo ou
necessidade, muitas vezes, representa sobrecarga para a mulher, já que, em
regra, e infelizmente, acumula, quase na totalidade, as lidas de dona de casa
com a carreira profissional.
Aproveitando essa “
necessidade” muitos jovens casadouros – na esperança de virem a usufruir vida
mais folgada – buscam, agora, mulher, que ganhe bom vencimento…; do mesmo
jeito, como antigamente, procuravam bons dotes…
É a vida! …
* - As opiniões expressas, por Salazar, foram
transcritas do livro: “ Férias com Salazar” de Christine Garnier (2ª
edição). Parceria Antonio Maria Pereira - Lisboa- 1952.
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