EVOLUÇÃO OU INVOLUÇÂO?
Por
Humberto Pinho da Silva
Estava no clube, a lamentar ao
meu amigo Manel, o facto de familiares não escreverem nem telefonarem.
-Passam meses – dizia eu, –
anos, por vezes, que não os vejo!…
Quando o Manel, de sorrisinho
maroto, dançando nos lábios finos, me disse:
- “ Mas isso é muito bom!
…Muito bom! …”
Atónito, não atinei outra
pergunta, senão interrogar, porque era assim tão bom.
A resposta foi pronta, eivada
de festivos risinhos:
- “ É sinal que está todos bem!
… Se tivessem necessidade, se precisassem da tua ajuda ou auxílio, eram mais
pontuais! …”
O Manel, era velho amigo;
daqueles com quem se troca confidências. Escrevi “ era”, porque faleceu, com
muito pesar meu. Perder amigo, é perder parte do passado; de passado, que nem
sempre foi feliz, mas que teve momentos de felicidade plena.
É lamentável, que laços
familiares e de companheirismo, se vão deslaçando, nos tempos atuais.
Espalham-se os familiares.
Mudam de cidade, de país. Vão viver para terras longínquas; e esquecem, por
vezes, os que ficam… a não ser que precisem…
Então, telefonam. Perguntam: “
Como passa?”. Os afazeres, as tarefas quotidianas, não lhes permite mais
contacto – dizem eles, – como desejariam…; e a propósito, lembraram-se: que
talvez…como tem muitas relações…conhece o meio…não podia encontrar…
São amigos de infância;
companheiros de escola; primos que partiram ou que não partiram, mas incapazes
de pegarem na pena ou no telefone, e perguntarem: - ” Como vai a tua saúde? …”
E agora, com a Internet é tão
fácil e económico, enviar uma mensagem de saudade! …Uma mensagem de amizade! …
Tenho conhecidos, no Facebook,
que ignoro o nome completo e a cidade onde vivem, e ainda menos, o que fazem,
mas todas as manhãs; todos os fins-de-semana, enviam o PP; a noticia, que os
impressionou; o artigo que os fez pensar; acompanhado de abraços e palavrinhas
simpáticas.
Ninguém é uma ilha (disse
alguém, que não recordo); e Cristo, também disse: que todos somos irmãos,
filhos do mesmo Pai. Todos precisam de conhecer, que há, neste mundo, quem se
lembre deles; quem seja capaz de perder um minuto na vida, para ganhar um amigo
para a vida.
Há muito terminou o salutar
costume, das famílias, se visitarem ou passarem o serão, reunidas. E foi pena!
…
Também acabaram os aprazíveis
passeios, para ver vitrinas de lojas, na baixa.
O medo de sair à noite, e as
montras cerradas a cortinas de ferro ou aço, tiraram todo o encanto à “
voltinha dos tristes” – como se dizia, na cidade do Porto, – ao passeio, pelo
centro, que as famílias tradicionais, faziam nos fins de semana.
Hoje, vive-se diante do
aparelho de televisão, vendo telenovelas ou noticiários, que nos lembra a
barbárie, que campeia, e a saudade dos bons velhos tempos, em que se podia vier
pacatamente, em grande sossego.
Bons dias, em que as crianças brincavam na rua, sem
receio de serem colhidas pelo carro, ou serem molestadas por predadores e
assaltantes malignos.
Todo esse sossego, toda essa
tranquilidade, desapareceu, e com ela: gestos de cortesia, boas maneiras, e a
educação, que se recebia em casa.
Agora, as crianças, são
educadas na escola – quando são, – do mesmo jeito como a Casa da Moeda cunha:
todas iguais.
É a educação coletiva: não a da
elite, mas a da ralé.
Dificilmente se diferencia,
pelo modo de vestir e de falar, o estudante universitário, do aprendiz de
pedreiro! …
Tudo
termina! Tudo acaba! …
Dizem, que é evolução; para mim
é: involução; o nivelamento pela ralé.
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