SERÁ MALDIÇÃO?
Por
Humberto Pinho da Silva
Admirava-se meu pai, que a
maioria dos turistas franceses, que visitavam o nosso país, nos anos cinquenta
e sessenta, fossem operários e modestos trabalhadores.
Admirava-se, porque nessa
recuada época, a classe média portuguesa, limitava-se a idas à praia e passeios
ao campo.
Anualmente, em regra, em
excursão, davam uma volta pelas cercanias; os mais abastados ou iam para a
“quinta” ou passavam quinze dias na estrangeiro.
Os mais humildes, viajavam, se
emigravam, e regressavam, quando obtinham meios de fortuna, ou bastante para
parecerem ricos.
Meu pai pertencia à
classe-média. Pessoas, que à custa de economia apertada, pareciam, por vezes
abastadas. Era classe sanduichada, entre ricos, que viviam desafogadamente, e
pobres, que, em certos casos, obtinham rendimento igual ou superior, aos que se
consideravam da classe-media.
Nesse tempo, amigos de meu pai
– que pensavam ser entendidos em política, – contradiziam Salazar, declarando,
em surdina – não fosse a PIDE ouvir, – que o futuro de Portugal era a Europa, e
não a África, como asseverava, teimosamente, o estadista.
Mas, meu pai, que sempre foi
muito ponderado, ouvia-os…ouvia-os… e rematava: “ Vivemos em paz. Pode-se
andar, sem receio, mesmo de madrugada, por este Portugal… Pelo menos temos
paz…”
Por fim, sopraram, os famosos
ventos da História, há muito esperados. Os detratores do estadista, tomaram o
poder em Lisboa e em África.
Entramos, então, finalmente, na
tão desejada Europa.
A guerra terminou. O país ficou
reduzido à Lusitana. Com o dinheiro europeu, Portugal modernizou-se, vestiu-se
de novas roupagens. O povo, entusiasmado, regozijou: “ Agora sim! Agora
somos europeus! …”
Rapidamente verificou, que se
enganara: em breve os jovens seguiam as passadas dos avós: a emigração. A
diferença é que os de outrora eram analfabetos ou quase; os de agora
instruídos, dominando línguas…; mas partem como partiram no tempo da Primeira
Republica e de Salazar.
Verdade é que o país ficou mais
bonito; pode-se dizer: mais rico; mas o povo? Esta contínua pobre. A
classe-media quase desapareceu, e foi – a que não quis emigrar, – engrossar o
número da pobreza.
Por que será que o fado
português se repete de geração a geração? Por que será? Quem sabe responder?
Os nossos políticos são ótimos,
e brilham nos organismos internacionais; os nossos desportistas são o melhor
que há; as nossas Universidades são respeitadas em todo o mundo; e os que
emigram, em regra, são trabalhadores exemplares.
Então, por que nunca deixamos a
cauda dos países do primeiro mundo?!
O que nos falta? Saberá o
leitor? Confesso que não sei. Será maldição?
Se não é; o que será?
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