MEU TIPO INESQUECÍVEL
Por
Humberto Pinho da Silva
Entre a minha parentela – que
não é grande, – havia figura, que se destacava, não pela inteligência, e ainda
menos pelo dinamismo, mas sim, pela bondade e simpatia.
Para muitos, era um pobre
diabo. Homem de fraca personalidade, de pouca vontade própria, facilmente manipulável.
Mas, para mim – que sempre o admirei, e para os que sabem observar o interior
da alma, – era: homem extremamente bom; sempre preocupado com os outros: pronto
a prestar pequenos favores e pequenas atenções.
Era o que Cristo havia dito, em
Confarnaun, no célebre Sermão da montanha: um pobre de espírito.
Se alguém caia doente, mesmo
sem ser familiar, certo era, que o Júlio o ia visitar, oferecendo, com
lealdade, seus préstimos.
Um dia meu pai foi
hospitalizado. Bem desejava que os amigos o fossem visitar… mas quase todos
tinham muitos afazeres…
Um, que era Religioso, e vivia
na cercania da Casa de Saúde, telefonou-lhe, desculpando a ausência. Falta de
tempo… e de transporte.
Mas o Júlio, não só o visitava
assiduamente, como se pôs logo à disposição, para tudo que fosse necessário.
Já em casa, após o tratamento
hospitalar, meu pai, devido à doença, que o vitimou, não podia sair.
Prontamente o Júlio, se
ofereceu para entregar, na redação, a crónica semanal, que mantinha na terceira
página do periódico.
Não havia funeral de amigo ou
conhecido, que o Júlio, não fosse. Ia, não para ser visto, mas para oferecer
seus préstimos.
Na juventude, devido à educação
que recebera, o Júlio, não frequentara a Igreja; todavia, nas últimas décadas,
graças ao primo Mário, passou a participar, diariamente, na missa das seis na
igreja da Trindade, no Porto.
Encontrei-o, muitas vezes, nos
primeiros bancos do transepto, de joelhos, recolhido diante do Altíssimo.
Meu pai faleceu. Era jovem e
inexperiente. De imediato, o Júlio, se prontificou a cuidar de tudo, auxiliando
em tudo que fosse preciso.
Por ser simples, de coração
simples, tornou-se, para mim, no meu primo inesquecível
Como ele, tenho apenas um amigo
(por razões obvias, não o menciono,) que está sempre presente, nos momentos
mais difíceis. Ter amigos destes, é um privilégio…já que é raro.
Não admira, portanto, que o
Júlio, seja lembrado com carinho, por todos que tiveram a felicidade de terem
convivido com ele.
São homens, como o meu primo
Júlio, que nos levam acreditar que ainda há gente boa, capaz de viver, para
servir.
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